8 Perguntas: Paulo Senoni (KiLLi, Mundo Alto, Estúdio Costella)

​Paulo Senoni é ​produtor, músico, técnico de áudio e ​compositor de mão cheia.

Desde 1999 assina inúmeras canções nas suas bandas (KiLLi, Mundo Alto, Last Post, etc ) e diversas produções, gravações, mix e masters que variam desde o Samba até Heavy Metal.
Depois de muitos anos pilotando gravações e produções no Nimbus Studio, hoje integra o time de profissionais do Estúdio Costella paralelamente às suas produções individuais.

Abaixo estão as 8 Perguntas ​que fizemos ao nosso amigo de longa data.


Mix and Fix “1”: Fala Paulinho, tranquilo? Muito obrigado por aceitar o convite pra participar do blog. Conta um pouco de como começou sua carreira, como músico e posteriormente produtor e técnico de áudio.

Paulo Senoni: E aí, Gab! Eu que agradeço, me sinto realmente honrado por ser lembrado pra trocar essa ideia com você.

Sempre gostei de música desde as minhas primeiras lembranças, mas comecei a realmente me interessar e sair por aí comprando discos em 1994. Eu tinha 14 anos, já tinha passado aquela era do “hard rock farofa”, que nunca me pegou. Foi o grunge que ganhou meu coração. Meus primeiros discos foram o “Superunknown” do Soundgarden e o “Unplugged” do Nirvana. Depois disso, entrei de cabeça no punk rock e bandas como Green Day, Bad Religion e Descendents foram o que me motivaram a aprender guitarra e começar a compor.

Depois de um tempo, mais precisamente em 1999, surgiu o KiLLi e aquela vontade de largar o emprego de bancário pra me dedicar à música. Foi em 2001 que tomei coragem. Saí do banco e fui ser vendedor de instrumentos na Teodoro Sampaio, ao mesmo tempo em que comecei a estudar áudio no IAV, já pensando em como me virar no meio musical. Nesse meio tempo, o KiLLi acabou “estourando” e passei a me dedicar 100% à banda, largando tudo.

Em 2006, quando a banda deu aquela famosa “assentada”, voltei ao plano de trabalhar com áudio e consegui uma vaga no estúdio Nimbus, onde comecei a fazer as primeiras gravações. No começo, calhou de eu pegar uma coletânea de samba dividida em vários discos para gravar. Ou seja, era isso quase todo dia, por mais de 1 ano. Durante os 5 primeiros anos de Nimbus, gravei de tudo, como você falou. Uma das coisas mais legais que fiz por lá durante alguns meses foi o finado Sessões MTV, programa no qual as bandas tocavam ao vivo e era transmitido pelo “portal na internet” da emissora. Entre esses tipos de gravação “ao vivo”, discos de verdade ou pré-produção, cheguei a gravar o For Fun, The Donnas, Titãs, NX Zero, Pedra Letícia, Landau, CSS, entre outros.

Foi em 2010 que passei a ser freela, começando a gravar e produzir também no estúdio Costella. Desenvolvi muito a minha visão digamos, artística, trabalhando com o Chuck Hipolitho, além de abrir a cabeça pra outros tipos de produção, aquelas não necessariamente perfeitas. Hoje em dia encontrei um balanço melhor entre a nóia de captar tudo certinho e saber a hora de deixar as coisas mais soltas.


Mix and Fix “2”: O que sempre me chamou a atenção no seu trabalho, nas suas mix principalmente, foi a clareza que os elementos se apresentam…mesmo em alguns trabalhos mais pesados ou com mais pressão, os elementos estão todos ali, “falando entre si”.  A que se deve isso na sua opinião? Gravação próxima do que se quer ouvir no final? Arranjo? Um cuidado extra na Mix? Tudo isso junto, hehe?

Paulo Senoni: Po, muito obrigado =) Acho que tudo junto mesmo, sendo o mais importante a captação já pensando lá na frente. Não é sempre que dá pra fazer isso, mas em muitos trabalhos eu cheguei a re-gravar guitarra, baixo, percussão ou voz quando já estava na etapa da mixagem, simplesmente porque o elemento não estava funcionando no todo. Até mesmo quando está tudo muito bem gravado, pode ser que alguns elementos sejam muito parecidos em termos de frequência, o que faz você ter que dar um jeito e mudar drasticamente o timbre de alguns deles.


Mix and Fix “3”: Um tempo atrás, durante um bate-papo nosso, falamos sobre quantizar elementos na sessão e você mencionou que não via problemas em “colocar a batera no grid” e que até preferia em alguns casos. O que, na sua opinião, melhora o todo tendo a sessão rítmica mais “quadradinha”, digamos assim? E tem um “limiar” onde isso deixa de ser interessante?

Paulo Senoni: A grande vantagem de ter uma bateria quantizada pra começar um projeto é que ela serve como a referência pra tudo o que vem depois. Nada mais chato do que deixar a bateria “balançar” pra lá e pra cá do grid pra depois os músicos terem que “tocar errado” junto, principalmente se a música tiver uma levada menos tradicional. Viradas e convenções são dor de cabeça quando não estão pelo menos bem próximas ao grid. Quantizar a bateria não se faz necessário quando a proposta da canção é soar meio errada (o que eu não condeno de jeito nenhum), ou quando o batera é preciso. Mas a gente sabe que batera preciso é exceção, não é? haha E claro, tem também a situação de gravar sem click, coisa que eu tenho feito cada vez mais. Nesses casos, é legal pelo menos gravar a base da música ao mesmo tempo, nem que seja uma guitarra ou baixo junto da bateria, pra tudo fluir melhor e já poder detectar possíveis problemas.

Paulo em ação gravando guitarras do Rawfire (SP).

Mix and Fix “4”: Você é músico há muitos anos, hoje toca no Mundo Alto, e compõe muito. O quanto e no que você acha que isso influencia as suas produções e principalmente suas gravações e mixagens?

Paulo Senoni: Acho que influencia mais quando estou produzindo ou na hora da gravação, quando não sou o produtor. Não consigo ser aquele técnico que simplesmente aperta o REC. Eu sempre tento dar ideias e sugerir caminhos diferentes quando eu percebo que alguma coisa não está dando certo. Componho há 20 anos já, isso ajuda a identificar pontos fracos nas canções. Às vezes é coisa bem simples, tipo alterar o andamento da música, ou então acertar algum acorde que não está harmonizando. Mas claro, a gente sempre tem que sentir se essas ideias são bem-vindas ou não. Quando eu percebo que a banda não dá brechas pra “pitacos”, eu fico na minha.


Mix and Fix “5”: Vamos lá, papo de nerd de audio agora:  Microfones preferidos e quais ocasiões? Plugins (ou Hardware) preferidos e quais ocasiões?

Paulo Senoni: YES! GEAR! Tenho alguns microfones preferidos que servem pra várias ocasiões. Se eu fizesse um ranking, acho que o primeiro da lista seria o RE-20 da Electro Voice. Fica bom na voz, no bumbo, surdo, amp de guitarra, amp de baixo e provavelmente em muitas outras situações que ainda vou descobrir. Outro microfone na mesma pegada é o SM7b da Shure, que só não testei no bumbo ainda. O tradicional SM57 nunca me deixa na mão, gosto dele até pra captar o hi-hat da bateria, mas ele é ótimo pra guitarras e vocal. Já teve situações em que ele soou melhor que condensers caros no vocal. Pra citar um condenser, sou fã do Neumann TLM 102.

Sobre periféricos, o meu pré(ferido, ah mlk!) é o Avalon 737. Compressão limpa, que não altera o som original e não dá na cara que achatou. Gosto dele em vocal e violão, o resto prefiro gravar sem comprimir.  Plugins que eu uso em TODAS as mixagens: SSLComp da Waves no canal master e/ou no bus da bateria, Compressor/Lim Dyn3 do Pro Tools em quase tudo, REQ da Waves em quase tudo, Fairchild 660 da Bomb Factory no bus da bateria, violões e vocais e o Saturation Knob da Softube nos vocais e caixa da bateria. Gosto muito do Trigger 2 da Slate quando preciso de sample na bateria. E o delay preferido é o H-Delay da Waves, que tem um som saturado que encaixa nas mix naturalmente, sem dar trabalho.


Mix and Fix “6”: Que estilo ou instrumentos você considera mais difíceis gravar​ e por quê? E mixar? 

Paulo Senoni: Mixar música pesada é o mais difícil, seja hardcore ou metal. O desafio é fazer tudo aparecer e ainda manter a bateria “mordendo”. O vocal tem que ficar na cara junto com o bumbo e caixa, mas o resto também tem que estar bem presente, e achar esse ponto ideal às vezes é uma luta, porque todo mundo da banda quer se ouvir alto haha  De instrumento, com certeza a bateria é a parte mais complicada de gravar, por ter uma porrada de microfones e depender MUITO da performance do instrumentista. É o que eu sempre digo, a bateria quem mixa é o batera. Caso ele falhe nesse quesito, dá-lhe samples!


Mix and Fix “7”: Você geralmente produz, grava, mixa quase todos os materiais que suas bandas lançam. Você acha que ter um produtor de fora da banda contribui bastante pro resultado final ou mesmo pra deixar que o músico “exerça só a função dele”?​ ​E Qual produtor ou mixador você​ tem muita vontade de trabalhar um dia?

Paulo Senoni: Acredito que ter um produtor de fora é a chave pra chegar num resultado mais rico. Eu acabo produzindo e fazendo quase tudo pra economizar grana mesmo, mas sempre que posso eu deixo algumas partes desse processo na mão de alguém. Pra gravar os dois discos do Mundo Alto, por exemplo, a gente escalou o Fernando Sanches pra gravar as baterias e masterizar, lá no El Rocha. Começo e fim do processo, pra tirar pelo menos um pouco do meu dedo da coisa.  E eu gostaria muito de um dia ter o Mundo Alto produzido por algum produtor da MPB, como o Kassin ou sei lá, o Roberto Menescal, se é que ele ainda produz hoje em dia. Acho que, além de eu aprender muito, esses caras saberiam como levar a banda pra uma direção que por enquanto eu só imagino haha


Mix and Fix “8”: Como o Blog é voltado principalmente para Mix, conta algum truque de mix que você utiliza sempre nas suas sessões e que pra você é imbatível em determinada função.

Paulo Senoni: Tem muitas técnicas que eu utilizo quase sempre, mas são meio manjadas da galera, tipo compressão paralela, alinhamento de fase na bateria (manual e depois ainda com o Auto Align), entre outras.
Vou então falar de uma criação própria, uma combinação de plugins que eu chamo de “widener”.  Em um canal auxiliar, abro o Mod Delay III da Avid (mas pode ser qualquer delay curto) e deixo, no L um delay de 55ms, no R 45ms e  mix no 100% com 0 de feedback. Depois, coloco o Lo-Fi da Avid, pra dar aquela sujada no som, mas nada muito drástico. Complemento com um EQ qualquer pra tirar as frequências mais agudas e graves, e pronto.
Como esse efeito está em um canal auxiliar, acabo usando ele em mais de um elemento na mix e fica muito bom pra dar uma “engrossada” em vocais, caixa da bateria, violões, etc.
Acho q fiz essa combinação há uns 2 anos e tenho usado em quase todas as minhas mix desde então, algumas vezes no talo, outras de maneira mais sutil. Deixei até num template pra abrir como se fosse um plug-in.