8 Perguntas: Fernando Sanches (Estúdio El Rocha, CPM 22, O Inimigo)

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Fernando Sanches é figura mais que carimbada na música independente brasileira. Junto com seu pai e seus irmãos Daniel Ganjaman e Maurício Takara (que também dispensam apresentações) pilota o já tradicional Estúdio El Rocha, este que revelou inúmeros artistas e tem sua assinatura sonora devidamente cravada no universo musical brasileiro.

Abaixo estão as 8 Perguntas feitas pro nosso amigo multi-talentoso que inclusive revelou alguns truques que nem sempre conseguimos arrancar dos profissionais por aí!


Mix and Fix “1”: Fala Fernando, tranquilo? Primeiramente muito obrigado por aceitar o convite para estreiar o Blog, e por demonstrar o interesse em passar pra frente conhecimento que a gente vai adquirindo ao longo da carreira. Me conta resumidamente como a música (e posteriormente o audio profissional) foi parar na sua vida, e onde se encontra sua carreira hoje.

Fernando Sanches: Meus pais ouviam muita música em casa. E meu pai teve banda nos anos 60, quando morava no interior de São Paulo. Quando veio para São Paulo, em 68, 69 ele acabou tendo que largar a música, mas em casa sempre tivemos instrumentos musicais, sempre teve essa ligação. Lembro que a primeira banda que me chamou atenção foi o Kiss, muito por causa do visual, eu era muito novo e eles vieram pro Brasil. Depois rolou o Rock In Rio e me apaixonei pelo Iron Maiden, aquelas capas, o som, era muito forte tudo para uma criança. 

Meu pai sempre foi muito bom de manutenção e como a firma que ele trabalhava faliu no Plano Collor, ele começou a fazer manutenção nos teclados da marca Ensoniq, que tinham acabado de chegar no Brasil. Foi numa dessas que com aproximadamente 10 anos eu entrei pela primeira vez num estúdio profissional, o Vice-Versa, atual estúdio da Gravadora Trama. Fiquei doido com aquilo!!! Aquela sala gigantesca, um monte de botões. Toda vez que meu pai ia la arrumar algo eu ia junto.

Lá pra 92 eu começei a montar minhas bandas com os amigos do prédio e eu era o responsável por gravar essa banda. Tinhamos apenas 1 microfone e eu fazia a mixagem afastando as pessoas, aumentando ou abaixando os amplificadores… acho que tudo começou ai. 

Em 93 essa minha banda de quarto evoluiu e gravamos 2 faixas para uma coletânea, depois de uma demo ao vivo. O cara do estúdio, Rildo Velloso, era muito gente boa e deixava a gente pilotar as máquinas. Ele me ensinou muito (veio a trabalhar no El Rocha anos mais tarde…), naquele gravador de 16 tracks e aquela mesa Allen & Heath fiz as minhas primeiras mix, automações coletivas (cada um cuidando de um instrumento na hora de queimar a mix), etc…

Gravei muito ensaio no primeiro El Rocha, no deck de fita cassete. Esses ensaios começaram a virar fita demo. Logo depois o meu amigo Rafael Crespo me emprestou um 8 track, mas que só funcionavam 7, da Tascam, em fita de 1/2″. Gravei muita coisa. Esses tempos a minha primeira gravação nessa máquina, uma demo para a banda Inspire, foi relançada em 7″ na Europa. Dai pra frente virou parte da minha vida.

Atualmente passo a semana toda no Estúdio El Rocha que desde 1997 existe mas em 2013 mudamos para um espaço dos sonhos, com uma acústica super bem feita (minha sala favorita aqui do Brasil) e com muitos equipamentos que juntamos ao logo dos anos. Está um verdadeiro lugar dos sonhos para se fazer um disco. E tenho muito orgulho de ter chegado numa estrutura que nunca imaginei, e ter construído tudo isso de maneira independente, sem nenhuma multinacional que não tem nada a ver com música nos bancando e 100% focada no nosso objetivo que é fazer bons discos. É cada dia mais difícil manter esse tipo de estrutura, mas é muito gratificante. 

Nos finais de semana faço shows com o CPM22, O Inimigo e as vezes rola um Againe pra relembrar toda aquela bagunça.


Mix and Fix “2”: Indo direto ao ponto: Hoje em dia, depois de tantos trabalhos diversos, tantos “arruma daqui, mexe dali”, grava assim ou assado, faz assim que é melhor, etc…tem alguma coisa (Simulador de Amplificador, Sample de Batera, etc) que você ainda não “aceita” utilizar nas suas produções ou mixagens? E se sim/não, por quê?

Fernando Sanches: Eu uso tudo, não tenho problema com isso não. Simuladores de Amplificadores ainda não me conquistaram, acho sempre de mentira, mas na soma já consegui bons resultados. Acho que bateria eletrônica para ter som de acústica é a única coisa que nunca usei (esses packs tipo BFD Drums). Os pratos nunca parecem de verdade. Sempre tem som de brinquedo. Para trilha, algo que a música não é o principal deve funcionar bem. Agora pra disco, nunca vi rolar. 


Mix and Fix “3”: O que te “broxa” nos dias de hoje quando você vai gravar ou mixar uma música? Seja no artista, nos elementos da mix, na postura, etc…

Fernando Sanches: Música que copia alguma outra música. Acho um saco e sem sentido. Pra que ser o segundo? Influência é uma coisa super saudável, agora copiar eu acho bobo. Nessa era da internet não vai demorar muito pra todos perceberem a farsa. 

Música muito quantizada também acho legal só quando a idéia é soar como máquina, musica eletrônica. Bons músicos tem sotaque. Todos meus bateristas favoritos (menos talvez o Josh Freese, que sabe imitar desde uma drum machine até o Chris Mars do Replacements) se eu escutar 4 compassos eu vou saber quem está tocando. E gosto disso. Coisas e pessoas perfeitas são chatas.

Geralmente sou uma pessoa bem aberta, tento todas as idéias, e muitas daquelas que eu tinha certeza que não iam funcionar, rolaram lindamente.

Não gosto de artistas que querem ficar escutando os elementos solados na mixagem. A coisa deve funcionar no contexto, não sozinhas. Muitas vezes o pior som de baixo, o mais feio, é o melhor para aquela música, para aquela mix.

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(Trabalhando juntos na gravação do disco do Dinamite Club no Estúdio El Rocha)

Mix and Fix “4”: Qual o gênero musical que você considera mais trabalhoso pra gravar, pra mixar e por que?

Fernando Sanches: Para gravar, quanto menos elementos, mais trabalhoso. As vezes as pessoas pensam que uma faixa voz e violão vai ser mais fácil, eu acho o contrário… Qualquer problema ou pequeno erro fica muito na cara.

Para mixar, um arranjo ruim é sempre difícil é a pior coisa, quando todos estão brigando pela atenção na mesma parte. Isso dificulta tudo. Mas sobre o estilo musical, Metal melódico eu acho super complicado: é rápido, muitas notas, tem que ser pesado e muito limpo, com guitarras e teclados, dois bumbos… muito complicado mesmo. E fora que eu particularmente não curto muito a música mesmo.


Mix and Fix “5”: O quanto a técnica e o quanto a percepção e bom gosto do mixador é responsável por uma boa mix?

Fernando Sanches: Bom gosto é tudo. Vejo muito as mixes do meu irmão Maurício que não tem conhecimento técnico nenhum, e soam super bem, super coerentes. A técnica vai te ajudar a chegar onde você quer, chegar sempre num bom resultado, ter uma constância e a criar coisas novas com acertividade. Agora, nada substitui o bom gosto.


Mix and Fix “6”: Mix “In The Box” ou Analógica? Na sua opinião, é tão primordial assim ter uma SSL de zilhões de reais ou alguém consegue obter uma mix de respeito em um notebook com um par de fones?

Fernando Sanches: Hoje em dia o equipamento não determina mais se o resultado será bom ou ruim numa mix. É a pessoa que está fazendo que vai tirar som. O último disco do Green Day foi mixado todo “In The Box”, pelo Andrew Scheps. O cara tem uma Neve maravilhosa mas prefere mixar dessa maneira. Equipamento facilita você chegar no resultado, traz identidade para seu trabalho, agora ele não é mais determinante na qualidade final da sua mix.


Mix and Fix “7”: Conte o primeiro truque de mix (que você utiliza praticamente sempre) que vier a sua cabeça!

Fernando Sanches: Gosto muito de usar compressão paralela na bateria e uso muita coisa no meu Mix Buss para colorir a mix. Geralmente tem 2 tipos de compressores e 2 equalizadores, simuladores de fita, etc… 


Mix and Fix “8”: Quais são seus Equipamentos e Plugins favoritos que você usa sempre, e em quais instrumentos?

Fernando Sanches: Tenho dois 1176LN Silver Face que são maravilhosos. Uso sempre na Voz ou no Baixo. Os SF são os 1176 mais radicais que eu já escutei. Nada passa dele. Nunca consigo fugir, sempre acho que o som melhora quando passa por eles.

Uma coisa absurda que temos no El Rocha é um Plate Reverb dos anos 70 do tamanho de uma cama, chamado ECHOPLATE (feito por uma firma chamada AEA), que está em quase todas as mixes. Uso sempre um Spring Reverb da Tubeworks, que tem um som podre, mas maravilhoso.
Adoro Delay de fita de verdade, RE-201 da Roland ou a ECHOLETTE valvulada.Plugins eu gosto muito do pack da Slate. Acho tudo (menos as simulações de 1176) fantásticos. Essa nova linha deles de Reverb e Delay conseguiu tirar meu preconceito desse tipo de efeito em plugin, principalmente os reverbs, pois como não sou o maior fã de reverbs que simulam sala, prefiro os com som de máquina. Cresci com essa referência e eles finalmente chegaram nesse som que tenho na cabeça.Outra fábrica que está fazendo coisas muito legais é a Sound Radix. Eles não estão focando na simulação, estão criando plugins que usam o poder do Digital para fazer coisas que seriam impossíveis no mundo analógico. O “Auto Align” por exemplo é maravilhoso.