8 Perguntas: Otávio Cavalheiro (Fullheart, Falante, Cabaret Studio)

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Otávio Cavalheiro é produtor, músico, compositor e escreve diversos jingles para o mercado publicitário.

Durante o final dos anos ‘90 e boa parte dos anos ’00 integrou banda icônicas do cenário punk rock nacional ao mesmo tempo que assinou inúmeras produções no comando do núcleo de gravação do Rock Together Studio. Desde 2012 produz diversos jingles e trilhas para diversos comerciais na Cabaret Studio (uma das maiores produtoras de audio do mercado publicitário).

Abaixo estão as “8 Perguntas” que fizemos ao amigo de longa data Otávio Cavalheiro.


Mix and Fix “1”: Grande mestre Otávio, tranquilo? Muito obrigado por aceitar o convite pra participar do blog. Começo contando a todos que não sabem que foi você meu primeiro mentor no universo do áudio, que me recebeu de braços abertos pra acompanhar suas produções uns bons anos atrás. De lá pra cá o que mudou na sua forma de trabalhar e em encarar o áudio como profissão?

Otávio Cavalheiro: Pô, é nóis haha mestre é foda (to longe disso) mas é do caralho saber que o que você faz ou fez, as vezes sem você perceber, impacta a vida dos outros, muda o rumo, é muito louco isso. Sei bem como é, aconteceu comigo também quando entrei pela primeira vez no estúdio El Rocha para gravar duas musicas do Fullheart para uma coletânea… eu já tinha participado de outras gravações em outros estúdios, mas quando entrei no El Rocha (lendário estúdio paulistano), vi todos aqueles equipamentos, luzes piscando e vi o Fernando Sanches trabalhando com amor e fazendo a mágica de transformar uma musica, que até então só existia na cabeça ou quando tocávamos ela na garagem, em algo materializado, pirou minha cabeça, me mostrou um outro universo no mundo da musica, foi então que eu decidi que era isso que eu queria fazer da minha vida.

Antes de começar responder, eu queria agradecer o convite e tua a paciência, além dos meus dias serem bem corridos, eu não gosto de responder entrevistas, não por nada, só tenho preguiça e não acho que tenha nada muito interessante pra contar hehehe mas eu não poderia negar isso para um amigo e muito menos para um projeto tão foda quanto esse do teu site, que tá forrado de conteúdo foda e tem como intenção principal a troca de experiências e de compartilhar conhecimento, o que é justamente no que eu acredito.

Ai pra tentar resumir a historia, fui estudar no IAV, depois de me formar em 2 cursos montei um home-studio bem precário em casa onde comecei a fazer meus experimentos e gravar demos do Fullheart, Falante e banda de amigos, e depois de uns anos comecei a trabalhar no Rock Together que foi onde eu realmente entrei de cabeça e vivia diariamente o universo do áudio/estúdio… foi uma puta escola, onde eu aprendi literalmente o que era tirar leite de pedra. Mesmo tendo feito IAV a parada é como uma Auto Escola, você aprende a movimentar o carro mas aprender a dirigir mesmo só na rua fazendo cagada.

Quando eu gravei o meu primeiro disco como técnico de som eu nem sabia direito o que eu estava fazendo mas fiz. Eu sou péssimo com datas mas de lá pra cá rolou muito aprendizado, todos os dias, eu até tentava me manter informado, estudar um pouco, ler artigos, fazer cursos mas eu gostava mesmo era da pratica, de botar a mão na massa, sentir como cada botão agia no som então tudo que eu aprendi desde lá até aqui a maior parte foi fuçando mesmo no instinto, errando pra caralho, acertando as vezes e me divertindo bastante.

Depois de 5 anos no Rock Together eu estava cansado da rotina, não estava mais tão feliz como no começo, já não era mais tão divertido. Eu estava achando tudo meio um saco principalmente trabalhar pra caralho e não conseguir pagar minhas contas. Nessa época apareceram duas oportunidades: estagiar no Midas Studio ou trabalhar em uma produtora de áudio pra publicidade chamada Cabaret. Optei pela produtora de audio por que pagava e ainda paga melhor do que estúdios. Não que eu goste de dinheiro; eu gosto mesmo é de prosperidade e na época veio bem a calhar um salário fixo + comissão. Cai de paraquedas nesse meio publicitário, acabei gostando e fui ficando e estou até hoje (já deve fazer 5 anos).

Eu entrei na Cabaret fazendo mix de trilhas e finalizações de filmes dos mais variados estilos, de samba a orquestra, de 10 a 200 canais, mix com tempo pra fazer e outras em 15 minutos. Foi uma outra escola muita foda; se no Rock Together eu aprendi a tirar leite de pedra, na Cabaret eu aprendi a me virar nos 30.

Aos poucos eu fui deixando de fazer mix e fui indo para o lado de compor trilhas e jingles. Isso foi reacendendo um amor antigo que eu tenho que é compor e depois que eu percebi que conseguia escrever jingles sobre qualquer coisa, desde material para construção até fraldas, eu decidi dedicar o meu tempo e energia mais para esse universo da composição…não que eu nunca mais tenha gravado ou mixado, pelo contrario, ainda faço muito isso com as trilhas que componho, jingles e minhas próprias musicas, só não é mais o que eu me dedico atualmente. Não sei mas talvez juntar a arte de mixar com trabalho acabou me tirando um pouco o tesão da parada e eu fui ficando com menos paciência pra mixar…não sei explicar direito.

Não sei se consegui responder mas poder trabalhar com áudio / musica é um privilegio…É a única coisa que faz sentido para mim e é um universo tão vasto que podemos fazer e ser várias coisas diferentes dentro dele.

 


Mix and Fix “2”: Qual a grande diferença em trabalhar em estúdio com artistas e pra produtoras do meio publicitário? De que maneira a bagagem de um influencia no outro?

Otávio Cavalheiro: No estúdio eu acho que você tem mais espaço e tempo para externar e aplicar sua criatividade, imprimir sua identidade e somar muito ao trabalho. Gravar uma musica ou um disco é um processo muito mais artístico, muito mais significativo, muito mais verdadeiro… tem muito mais alma, é pura arte do inicio ao fim.

Na publicidade, você exerce a sua criatividade até a pagina 2, você é apenas uma peça (importantíssima diga-se de passagem) de uma engrenagem onde quem decide o que é bom ou não são pessoas que não tem muita noção da importância do áudio. Pra elas não faz a menor diferença o quão criativo, artístico ou essencial é sua trilha ou sua mix para projeto, no geral o que importa mesmo é se a mensagem que eles querem passar para aumentar as vendas está claro ou não. E não há nada de errado com isso, simplesmente é o como funciona a publicidade; quando você consegue entender isso você sofre menos. Obviamente eu não deixo de ser criativo ou me esforçar para fazer uma trilha, um jingle ou uma mix sob medida para o trabalho (caso contrario eu estaria perdendo meu tempo) mas é que publicidade é venda e não arte.

A bagagem que adquiri como músico e trabalhando em estúdio foi fundamental para mim na publicidade. Esses anos de experiência fizeram eu me adaptar, entender o funcionamento das coisas e chegar nos resultados muito mais rápido.

Agora da publicidade para o estúdio acho que o que soma mesmo é a variedade de estilos que você trabalha, o pouco tempo para conseguir fazer algo bom…na real acho que ambos, estúdio ou publicidade, são universos paralelos que trazem experiências e aprendizados diários, tanto pro áudio como pra vida. Na minha opinião estúdio é arte e publicidade é só publicidade, sem querer menosprezar.

 


Mix and Fix “3”: Pulando pro lado “autoral”, como foram suas primeiras experiências tendo que escrever jingles? Digo no sentido de ter meio que “vender” o produto através de uma música. E o que você gostaria de escrever, compor, gravar que ainda não teve a oportunidade?

Otávio Cavalheiro: Compor sempre foi algo natural e instintivo pra mim. Desde que aprendi meus primeiros acordes no violão eu já fazia as minhas musicas e escrevia as minhas letras (nunca gostei de tocar musicas dos outros ou cover). Depois que eu tive minha segunda banda o Fullheart, continuei compondo mas parei de escrever, voltei a fazer isso de leve no Falante.

Quando entrei na publicidade e tive que compor jingles eu voltei a compor e escrever. Era de fundir a cabeça ter que compor um jingle de 30 segundos falando sobre material para construção, cerveja, fralda ou seja lá o que for. Eu simplesmente adoro o desafio de conseguir contar uma historia ou falar sobre qualquer assunto em poucas linhas, o jogo de achar a palavra certa que se encaixe na métrica, rima e ainda consiga transmitir a mensagem…acho foda! Fazer isso em 25 segundos (que geralmente é o tempo que tem um jingle, por que os 5 segundos finais são de locução) é mais desafiador ainda.

Como eu disse lá em cima, fazer jingles reacendeu em mim o amor pela composição, seja canção ou jingle é uma mistura de tesão com alívio quando você consegue terminar uma musica e está tudo perfeitamente encaixado e funcionando.

E, respondendo a segunda parte da pergunta, a musica que eu gostaria de escrever, compor ou gravar na verdade são “todas”. Um #1 na Billboard, um jingle sobre adubo, ou uma canção que eu vou deixar em uma pasta do meu computador e nunca vou lançar…não faço questão de escolher, o que importa pra mim é criar.

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Trabalhando juntos em alguma produção anos atrás

 


Mix and Fix “4”: Hoje em dia, qual o processo que você sente mais prazer em executar? Compor, Gravar, Mixar, Masterizar? E por quê?

Otávio Cavalheiro: Sem dúvida nenhuma é compor. Compor é a coisa que mais me dá prazer no mundo da musica, mais do que tocar ao vivo, gravar, mixar, masterizar, ouvir…mais do que tudo. Acho muito louco que a partir de uma folha em branco e do silêncio você consiga construir uma musica.


Mix and Fix “5”: Migrando pro lado Nerd agora: Quais seus plugins, seus microfones e suas bibliotecas midi favoritas? Em quais situações você os utiliza?

Otávio Cavalheiro: De plugins gosto dos da Waves (SSL G Series, SSL Comp, API’s, L316, Aphex, CLA2A, CLA76, HEQ, HReverb). Gosto também desses de outros fabricantes que simulam os periféricos clássicos (desculpa, eu sou péssimo pra nomes) mas me viro com o que tiver. Nesses anos aprendi que mais importante do que com “qual” é “como” você trabalha. Se você souber onde quer chegar, você chega. Tendo um EQ, um Compressor, um Reverb e um Limiter, já dá pra trabalhar legal.

Para os microfones eu uso o mesmo raciocínio. Sou ruim de marcas e modelos mas quando eu posso escolher eu escolho os consagrados também:  Shure SM57, SM58, SM7, SM94; o AKG beta D112, o C414; Sennheiser gosto do MD421, do E609; Mic de Fita acho foda; Neumann e até os kits da Samson.

De Midi acho a maior parte da livraria do Kontakt foda pra caralho. Geralmente eu uso midi mais em batera (no caso da publicidade). O meu preferido atual é o DRUM LAB. Teclas eu gosto muito do pacote V colections da Aurturia que também tem bastante coisa de Synth.

Tanto plugin quanto livraria MIDI eu gosto de ficar variando e descobrindo, então na real o meu preferido é o que soa melhor na hora que eu estou compondo, timbrando ou mixando.

 


Mix and Fix “6”: Quem são suas maiores influências na música e no áudio? E quais foram as recentes descobertas musicais que te fizeram se sentir “daquele” jeito novamente?

Otávio Cavalheiro: Tá ai uma pergunta que eu acho difícil responder mas o que vale pontuar é que: eu quis começar tocar guitarra quando eu tinha 14 anos e vi o Billie Joe do Green Day na TV. Isso mudou tudo. Essa foi a maior influência, que determinou o rumo da minha vida.

Depois disso tiveram varias outras coisas e momentos diferentes no metal, punk, pop, hardcore, grunge, samba/pagode, 7 melhores da pan, até musica clássica (enquanto eu estudava piano). Atualmente eu não dou preferência para nenhum estilo em particular. Se eu boto a musica pra tocar e ela me toca então eu gosto, independente do estilo.

Mas ok, se tem que escolher um estilo…eu fico com o pop.

 


Mix and Fix “7”: Conta um truque de mix ou produção que você sempre utiliza e é sempre infalível…sempre “transforma água em vinho” hehe…

Otávio Cavalheiro: Quando eu trabalhava no Rock Together, eu fiz alguns milagres.
Fiz mais em estúdio do que na publicidade, então eu não sei dizer um truque especifico; tudo depende de qual é o ponto fraco. Por exemplo se baterista não tem pegada ou não toca no tempo o remédio é samplear as peças e quantizar. Se a pessoa canta mal, então afina.

O melhor truque de todos é acompanhar a banda que você vai gravar antes de entrar em estúdio. Colar em ensaios para tentar identificar os pontos fracos e já tentar resolver os problemas antes da gravação. Ensaiar, ensaiar, ensaiar de novo e mais uma vez. Pegar no pé mesmo! As vezes é um processo chato mas facilita a vida de todos na hora da gravação.

 


Mix and Fix “8”: Se você tivesse que escolher um único instrumento pra ter que se virar com ele em qualquer estilo, qual seria? E por quê?

Otávio Cavalheiro: Eu não me considero um musico bom no improviso mas sempre soube me virar e tocar o que eu queria tocar. Só fui estudar teoria musical depois de velho, quando estudei piano e isso expandiu muito minha mente e minhas habilidades.

O instrumento que me sinto mais a vontade é a guitarra mas se tem que escolher um, eu fico com o piano.